domingo, 10 de abril de 2011

SAUDADES DA MINHA ESCOLA

MARCELO TAVARES
Geógrafo


A chacina ocorrida na Escola do Rio de Janeiro me encaminhou ao ápice da perplexidade. Hoje, me encontro pasmo, triste e com extrema inquietude em tentar saber o que pode ter passado pela mente (que mente?) do autor de tamanha tragédia. Simplesmente inacreditável, sem entendimento e inaceitável. Quando ingressei na área educacional lá pelos idos de 1989, jamais pensei que um dia as infinitas alegrias de uma Escola dariam espaço a cenas absurdas de grandiosa brutalidade. Pessoas suicidas, assassinas e incapazes de associarem-se a Deus – eis o caos humano à mostra em meio a todos nós. Meu depósito de indignação precisa de recarga urgente. Dia desses pensei que já havia visto todas as espécies possíveis de absurdos. Já presenciei analfabeto se tornar liderança política, já soube de mãe que jogou o próprio filho recém nascido em lagoas, vasos sanitários e lixeiras, já me deparei com o crack transformando belas pessoas em flagelos humanos e por aí em diante. Porém, é preciso acreditar que a atrocidade ocorrida na Escola Tasso da Silveira tenha sido imaginada unicamente por seu protagonista – ninguém em sã consciência chegaria a esse patamar de loucura, delírio e coragem. Em meio a esse cenário sangrento e de coletivo desespero, só me resta sentir saudades daquela Escola multiseriada onde a professora ganhava flores e distribua beijos, o caminho era suave e a abelha, o elefante, a igreja, o ovo e a unha eram figuras capazes de garantir o aprendizado de fato. Naquela Escola que hoje sinto falta, tinha merenda que lembrava o tempero da comida da mamãe. Lá a gente cantava, rezava, brincava e aprendia ler e escrever. Não tinha telefone, nem máquina de xerox e muito menos internet – nunca foi preciso isso tudo. Os cadernos eram encapados em papeis de presentes e a professora deixava a gente regar a horta ao final do dia – era muito saudável e divertido. Quando a Escola estava de aniversário, cantávamos e desenhávamos em sua homenagem. Lembro que a merendeira também limpava o pátio e a professora, além de nunca faltar, sempre corrigia nossos cadernos individualmente registrando conceitos carinhosos e incentivadores. Porém, mais do que saudades da minha Escolinha Isolada, hoje clamo a falta de todos os ex-alunos que nunca mataram e nunca morreram. Lamentavelmente triste. Muito triste.

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